9.3.09

Existe lugar para fé no mundo acadêmico?




----- Original Message ----- From: CURSO DE ARQUEOLOGIA PEDE QUE TIRE DEUS DA MINHA VISÃO... To: contato@caiofabio.com Sent: Thursday, March 03, 2005 2:59 PM Subject: Ruptura Epistemológica


Passo por problemas sérios na faculdade. Curso a UNIVASF, o primeiro e único curso de arqueologia e preservação patrimonial da América latina. Uma das insistências dos professores é referente a se fazer uma “ruptura epistemológica”, que seria o rompimento com dogmas. O que dizem é que para se ser um cientistas tem-se que deixar de acreditar em Deus. Um grande difusor dessa teoria é o professor Celito Kestering, que leu a Bíblia em grego, latim, português e até algumas partes em aramaico. Ele tenta abafar a chama de todos com o conhecimento que tem. Me informe se você tem um artigo que trata de Ciência e Deus; ou se não tem, se é possível você dar a sua opinião, para que eu possa expor no mural da faculdade. Um beijo e que Deus abençoe você! _______________________________________________________________________________ Resposta:


Meu querido amigo: Graça e Paz! A epistemologia, originalmente, é uma área da filosofia, e que trata da questão da relação entre o objeto em estudo ou observação, e a capacidade do observador de examinar com isenção, sem permitir que pressupostos aniquilem o exame. É, portanto, uma filosofia do conhecimento! Com o passar do tempo a epistemologia acabou por se tornar uma necessidade de auto-exame por parte de observadores em todas as ciências, especialmente porque é de fato mais que provável que uma visão pré-condicionada deixe de ver o que está adiante de si. Preconceito não gera Ciência, mas apenas Dogmas. Ora, vendo sob essa perspectiva tem-se que dizer que o mundo cientifico é extremamente dogmático em muitos de seus conceitos, os quais, já são, muitas vezes, predefinidos por aquele que estuda, e que apenas busca meios de legitimar pela ciência as suas próprias crenças. A Ciência Física, e especialmente a parte dela que lida com o micro-cosmos, e mergulha no mundo das partículas subatômicas, já observou que a visão do observador tem o poder de alterar, no nível quântico, a posição de elementos subatômicos. No entanto, assim é na Física dos micro-elementos porque em tal nível, já se está nas fronteiras entre o material como dado verificável e as margens do mundo quase abstrato, ambiente no qual o olhar tem impacto real sobre o mundo. No que diz respeito à arqueologia, os cuidados que se tem de ter são equivalentes aos que se deve tomar em qualquer outra forma de avaliação e interpretação da vida, até porque um “olhar crente”, no nível arqueológico, não tem o mesmo poder que ele possui no mundo quântico. O que se deve saber é que o Evangelho pede que se tenha cuidado com a questão epistemológica, e dá ao tema aplicativos de natureza universal bem mais amplos do a própria ciência que assim se auto-denomina. O Evangelho manda que não se olhe nada com preconceito ou com pressuposições dogmáticas que impeçam a pessoa de enxergar a verdade que se apresente ante seus olhos; seja ela qual for. Sim, no Evangelho, se for verdade, é para ser visto; e se não for, é para ser tratado como o que não é. Sobre a questão que você levantou, faço a você uma pergunta: Quando alguém curioso e capaz de entender de engenharias encontra algo na rua, especialmente alguma coisa que seja mecânica, não havendo uma declaração explicita de quem seja o “fabricante”, você acha que tal pessoa se atrapalhará na tentativa de entender como funciona a máquina apenas porque não conhece quem a fez? Ora, se isso for um impedimento para o mecânico curioso, então será também um problema para um “cientista” estudar o Universo apenas porque não conhece a Deus. Deus é. E tudo o que é, é em Deus. Todavia, as coisas que existem não são Deus e nem dependem do conhecimento que alguém tenha de Deus para serem entendidas e conhecidas. Seria, todavia, uma tarefa impossível se o assunto da pesquisa fosse Deus. Como acontece, por exemplo, na “ciência teológica”, visto que o objeto do estudo não está disponível para ser pesquisado, pela própria realidade de Sua natureza. A grande tolice é a tolice teológica, visto que tem a Deus supostamente como objeto de estudo. Nesse caso, Deus é apenas a projeção da mente pré-condicionada a achar em “Deus” o que encontra dentro de si mesmo. Para mim, a teologia é cada vez mais apenas uma declaração acerca do interior limitado dos teólogos. Os arqueólogos, no entanto, estudam o que um dia existiu. Portanto, não importa saber quem criou o Universo ou como ele se auto-gerou..., mas sim constatar fatos mensuráveis e pesquisáveis... e que estão disponíveis em total “brutalidade” ante todos os sentidos. Ora, segundo me consta, Deus não é objeto de estudo arqueológico, pois se o fosse, seria de total frustração para a arqueologia, visto que jamais poderia encontrar o objeto do estudo escavando o chão, ainda que se encontrasse a “Arca de Noé”. Não é a fé em Deus que gera um impedimento epistemológico para o cientista, mas sim sua fé religiosa... seja ele um religioso-religioso ou um religioso ateu ou agnóstico. Religiosidade é uma atitude, não necessariamente uma fé espiritual. Ora, quem conhece a Deus pela fé, e o conhece no coração, esse se alegra com tudo o que descobre e encontra, visto que para ele tudo revela Deus, ou as manifestações criativas de suas criaturas e de toda a criação, em qualquer que seja a área do saber. Já a fé religiosa impede o indivíduo de descobrir e se alegrar na descoberta, caso a descoberta não valide a sua interpretação da vida, seja ela advinda de algum livro sagrado da religião ou de um tabu cientifico. Isto porque seus pressupostos dogmáticos estabelecem scripts que foram “interpretados” de algum oráculo religioso ou cientifico religioso. Nesse caso, o que está em questão não é o “oráculo” (seja ele qual for), mas sim a sua interpretação, a qual, na maioria das vezes, gera dogmas que impedem o avanço da ciência em sua escalada de compreensão do “como” do Universo, visto que supostamente o oráculo ou livro sagrado diz o “como”. Ora, no caso da Bíblia não se deve procurar o “como”, pois, de fato, ela só se preocupa em dizer Quem. Eu, por exemplo, amo todas as ciências e delas retiro tudo o que é bom para a vida e a percepção. E não há achado cientifico que me seja antagônico, nem tampouco antagônico a Deus; até porque Deus não está no nível de ser antagonizado por descobertas, posto que toda real dês-coberta, é um tirar o véu, é um abrir de cortinas, é um apocalipse (tirar o véu, revelação); e, portanto, sempre é algo que apenas revela, e revela “como” aquilo é em sua natureza, constituição e relação com o todo do Universo. Ora, essa é a razão pela qual o verdadeiro caminhar cientifico é um andar nos caminhos do Criador, creia a pessoa ou não em Deus. Nenhuma verdade é antagônica a Deus. E se não for verdade, os mesmo que alçaram tal coisa a tais níveis absolutos, eles ou seus filhos, sempre chegam a destronar aquilo mesmo que erigiram. E nisto está a beleza da verdadeira ciência: seu Dogma é dogma algum... Todas as verdades da existência, sejam elas quais forem e em que níveis forem discernidas e encontradas, são para mim parte da Verdade; carregando, portanto, a semente da libertação e da liberdade, conforme ensinou Jesus. Quem sabe que a Verdade não é objeto de estudo ou de explicação, esse sempre se liberta em cada verdade que descobre ou discerne. Aquele, porém, que não crê que haja algo como Verdade nos Cosmos, esse, pela própria sua peregrinação fundada na busca, pela exclusão, acaba chegando a uma certeza: não há, pelos meios científicos, certeza alguma. Ora, quem se preocupa com isto? Somente quem tem aquela certeza que se fundamenta apenas em “certezas” é que sofre com a realidade do inexplicável. Para esse, tudo o que novo é um novo problema, não uma nova oportunidade de saber e conhecer. Aquele, no entanto, que crê e conhece a Deus, esse sabe que em se tratando de Deus, se está também diante do Inexplicável em sua própria natureza, porém, completamente real no interior daquele que conhece. E mais: quando é assim, e com tal consciência, a fé em nada muda a avaliação de “ruínas da civilização” que ele encontrar pelo caminho, posto que só pode ser um problema se ele for ‘religioso’ e, portanto, preso a alguma interpretação literal das coisas. Há dois tipos de religiosos em sua carta e em seu meio, pelo que percebi. O grupo religioso maior é aquele que dá as cartas, pois, tem mais poder. Esses são os que pedem, religiosamente, que se faça a tal “ruptura epistemológica”. É coisa de religião fazer assim. De fato, parece até mesmo com as seitas que demandam tais “rupturas” de seus iniciados. O segundo grupo é o religioso minoritário. Ora, esses não têm poder no “meio”, e afligem-se achando que perderão espaço de trabalho ou que negarão a fé se a cada nova descoberta eles não puderem “provar” a presença de Deus na história antiga. Ambos os grupos são religiosos, e, além disso, profundamente infantis em suas crenças. Espero que você passe livre em meio a isto, e que seja maduro para saber que as digitais de Deus estão em toda parte, que Seus vestígios como Criador encontram-se em tudo e todas as coisas, porém, apesar disso, ninguém sabe o Seu caminho. Em qualquer que seja a vida ou em qualquer que seja o meio de vida, aquele que crê, vive apenas pela fé.


Nele, que não deixou vestígios para arqueologia, mas deixou impressões esmagadoras para qualquer um que sem epistemologia olhe o Cosmos,


Caio.

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